Saturday, December 30, 2006

Para Sophia

O mar voltou como tema, pretexto talvez
para novo emprego da palavra maresia em minha escrita.
E foram noites de insônia hoje compreendidas como premonição
de meu encontro com a poeta Sophia de Mello Breyner Andresen.
Quando noutro dia escrevi algo sobre mar e ventanias
eu não sabia, sinceramente, nada sabia sobre a obra de Sophia.
Não sabia, por exemplo, que ela havia escrito:

Mar,
metade da minha alma e feita de maresia
.”

Não fosse a mente sempre aturdida de pensamentos e vontade de escrever,
hoje eu dormiria de consciência tranqüila.
Não, não cometi o delito de ter me apropriado da poética de Sophia.
Mas, algo estranho aconteceu e um desejo de mar assim feito em palavras
conduziu-me por praias desertas, em noites de curiosa ansiedade,
como se alguma divindade me tivesse permitido contemplar,
com direito de poder olhar para trás ao voltar,
os luminosos corais de Sophia de Mello Breyner Andresen.