Sunday, December 26, 2010

2010 - considerações finais



Escrevo sem intenção de aconselhar a quem quer que seja, pois não mais acredito na eficácia dos conselhos. Mas ainda acredito na força da comunicação entre humanos, na eficácia do compartilhamento de percepções, de idéias, de filosofias. Então, se a passagem de ano nos sugere balanços e planos, lá vai o que me ocorre dizer.
Ultimamente, ando refletindo sobre as atitudes egocêntricas. Cresce a vontade determinada de deixar as minhas sepultadas em 2010. Se nos detemos na análise de nossas insatisfações, percebemos que o egoísmo é o que está na base de todo o sentimento.  
O símbolo de renascimento sugerido pelo Natal infunde-me a recusa ao egocentrismo, sutil inimigo que está dentro de nós e nos impele a transferir inteiramente para fora, para os outros, a responsabilidade pelos nossos fracassos, frustrações, sobretudo, nos relacionamentos.  Os êxitos são sempre de nossa exclusiva autoria. Já os reveses são sempre culpa dos outros. Eis um dos pilares do egocentrismo, tal como o sinto.   
 As causas externas dos nossos infortúnios existem, mas não dependem de nossa intervenção, pois não detemos o controle sobre o que vem de fora, mormente sobre os atos das pessoas. E não nos cabe a arrogância de tentar moldá-las às nossas conveniências. Mas, os nossos atos  - ah, estes sim! - são de nossa inteira responsabilidade. E, quanto a estes, temos a faculdade de prever, de escolher, de valorar nossas condutas e agir com a força da inteligência que se sobrepõe à  da impulsividade.
Então, se não há nada a fazer para combater o egoísmo dos outros, que cuidemos de domar o nosso próprio egoísmo. Com certa boa vontade até que dá para tentar.
A decisão de bem desempenhar o nosso papel no teatro da vida já será um bom começo. Façamos a nossa parte. Decorar os textos? Nem pensar!  É preciso largar ladainhas e obsessões. A tarefa é difícil. Mas vale a pena tentar conduzir o barco com espontaneidade, mas sem desprezo da cordialidade e do respeito ao próximo. Onde termina o Eu e começa o Outro? Como preservar a individualidade sem descambar para o individualismo?  Ah... Não sei. Mas estou disposta a aprender.                                
Aproveito a chegada de 2011 para refletir sobre tais questões e traçar estratégias de combate ao que há de egoísmo em mim. Bem sei que é difícil remover atitudes que permanecem grudadas em nosso modo de ver, sentir e agir em relação às coisas do mundo, em relação às pessoas que nos cercam – as que escolhemos e, sobretudo, as que não escolhemos. Mas não custa experimentar e fazer diferente, mudar o que é preciso. É o que desejo às pessoas que amo e gostaria de ver desfrutando de uma felicidade simples, silenciosa, cotidiana, sem fogos de artifício que quase sempre resultam em fogo de palha. Ajudas qualificadas podem ser necessárias. Mas é preciso de alguma humildade e muita coragem para buscá-las e integrá-las ao sistema do ego que não se confunde com o aprisionamento no egoísmo.
Agradeço à minha psicanalista, Eleonora de Mello Nascimento Silva, pela paciência, pela lição de escuta, pela intervenção terapêutica não menos amorosa, por sua cultura, seu especial gosto pela literatura que vem incrementando as nossas sessões.
Queridas e queridos, de coração, feliz 2011!  

Thursday, December 02, 2010

Da coletânea "Poemas Quebrados", Irina Terkov


- I -

Sigo para Atenas de trem.
A tristeza do inverno não me toca.  
Não invento flores para enfeitar os campos frios.
Conto as estacas dos terrenos baldios – paisagens possíveis.     
Em longínqua encarnação posso ter sido poeta.
Mas fiz questão de esquecer tudo.
Minha escrita não cabe em métricas.
Poderia tentar fazer versos, mas sem linha melódica.
Sem ceticismo, sem romantismo e rompantes.
Recuso musas.
Escrevo livre e jamais seria poeta de cantar a pátria.
Sigo para Atenas, mas estaria bem na Turquia ou em Tóquio.
Meus caminhos, meus quereres não fazem rima.