Sunday, October 09, 2011

O MAR DE CLARICE

Tarde dessas, fui com um dos meus netos dar uma olhada na Livraria da Travessa. Bisbilhotávamos as estantes destinadas aos pequenos. Encontrei ali um livro fininho na parte dedicada à turma teen. Era obra de Clarice Lispector indicada como "crônicas para jovens", sob o título "do rio de janeiro e seus personagens" (Ed. Rocco, 2011). Dúvidas sobre a utilização das letras minúsculas no título da obra e também nos títulos das crônicas - grafadas originalmente pela autora ou recurso da edição?

Assim como a obra infantil de Clarice, as crônicas para jovens são ótimas, principalmente porque falam aos jovens de todas as idades. Os personagens descritos são enfocados daquele jeito ímpar de Clarice se colocar nas percepções do real. 

São crônicas curtinhas em laudas, mas imensas em literatura.  

Segue "o mar de manhã"

"O mar. Tenho deixado de ir ao mar por indolência. E também por impaciência com o ritual necessário: barraca, areia colada por toda a pele. E mesmo não sei ir ao mar sem molhar os cabelos. E, chagando em casa, tem-se que tirar o sal. 
Mas um dia vou falar do mar de um modo melhor. 
Aliás, acho que vou começar um pouquinho agora. Vou falar do cheiro do mar que às vezes me deixa tonta. 
Tenho uma conhecida que mora na Zona Norte, o que não justifica nunca ter entrado no mar. Fiquei pasma quando me contou. E prometi que ela viria em casa para entrarmos no mar às seis horas da manhã. Por quê? Porque é a hora da grande solidão do mar. Como explicar que o mar é nosso berço materno mas que seu cheiro seja todo masculino; no entanto berço materno? Talvez se trate da fusão perfeita do masculino com o feminino. Às seis horas da manhã as espumas são mais brancas."