Sunday, June 03, 2007

Morte no sábado

- Vê a senhora o prédio ali adiante, onde há aquelas luzes mais fortes? Uma mulher se jogou lá do alto, faz pouco ... Lá vai saindo a ambulância.
- Morreu?
- O que a senhora acha? Jogou-se do 901!
- Que horror!
A mulher se jogou do nono andar ou foi jogada? A resposta fica para a polícia que até mais tarde, quando voltei para casa, ainda mantinha uma patrulha em frente ao prédio.
Noite feia de sábado, ocasião propícia para o desespero dos deprimidos, pensei - dos oprimidos, como digitei por equívoco ou ato falho. Afinal, a depressão deve oprimir, senão o peito, a alma, o desejo de estar com, o mais remoto sentimento de leveza de ser.
O fato ficou ali sepultado no silêncio da noite de um jeito ainda mais banal que o de costume. Seja porque caia uma chuva fria e insistente. Seja porque a rua permanecia em sua calma habitual, talvez só um pouco mais triste. Seja porque não havia gente aglomerada a espiar e esquecer a própria desgraça diante da desdita alheia. Seja porque a dor do suicida se esvai no gesto e não desperta dó, só perplexidade. Seja porque não faz muita diferença estar desperta na noite escura ou estar adormecida no vôo sem paradeiro, ns brumas da eternidade.