Tuesday, September 06, 2016

Menos slogans, mais pensamento crítico

Responsabilidade - palavra que encerra uma ideia fácil de entender. Mesmo assim, fui aos dicionários. Adoro conferir nos dicionários! Escolho o Houaiss que a define em três acepções:
"1. obrigação de responder pelas ações próprias ou dos outros;
2. caráter ou estado do que é responsável;
3.dever jurídico resultante da violação de determinado direito, através da prática de um ato contrário ao ordenamento jurídico."
Triste um país em que a irresponsabilidade deixa de ser natural na infância, passageira na adolescência, para chegar à fase adulta desnaturada, transmutada num baita vale-tudo. Um vale-tudo desestruturante no pior dos sentidos.
Triste um país em que a irresponsabilidade é praticada por agentes políticos e de Estado com seus poderes decisórios sobre nossas vidas. Irresponsabilidade que se apresenta em bandeiras de todas as cores, engessadas na pobreza dos slogans - "fora tudo o que aí está". Slogans muitas vezes antagônicos só na aparência. Prova disso foi a martelada desferida pelo Senado, contra o artigo 52 da Constituição vigente, patrocinada pela articulação concentrada nos 20 votos contrários ao impeachment somados aos 16 votos, com predominância do PMDB, para cindir o texto da norma, quando a sua dicção traduz um todo indivisível. Se digo: "fui à feira com Alberto". É possível formar-se a ideia de que fui à feira sozinha? Não, não é. Mas o que não fazem os detentores de mandatos parlamentares para cumprir seus projetos cada vez mais distanciados dos interesses do povo?
É bom lembrar que o Temer só aí está porque seu retrato lá estava na urna eletrônica ao lado de Dilma. Ah, tá: o lema agora é "todos juntos somos fortes para fechar as portas das investigações da Lava-Jato e afins". O embuste do confronto entre o PT e o PMDB que é também de Cunha salta aos olhos! Só não vê quem se aprisiona na superficialidade dos slogans, em prejuízo do pensamento crítico do qual depende o nosso futuro.
Posso estar enganada, mas não vejo solução fora da ordem jurídica e do Estado de Direito Democrático bem desenhado na Constituição. Com todo respeito ao pensamento dos companheiros e companheiras, não fui para a luta armada. Nem teria deixado de assinar a Carta de 1988. Os que me conhecem daquele tempo, da militância no PCB, talvez não se espantem com meu pensamento.
Hoje, diante de tantas perplexidades - muito mais dúvidas do que certezas e slogans - só gostaria de saber o que pensa o povo. E me refiro à turma que trabalha duro, enfrenta horas na condução para chegar ao trabalho e voltar para casa - e os vejo exaustos, com feições apreensivas no vai e vem do metrô, desembarcando em massa na estação Central do Brasil para pegar a linha férrea - homens e mulheres que respondem por seus filhos, seus netos e se desdobram para que eles tenham o melhor... Penso nos que sofrem nos grotões onde as benesses populistas sequer chegam.E não posso deixar de pensar no destino de tantos que confiaram nos fundos privados de pensão, hoje ameaçados por um dos golpes mais suntuosos do sistema construído sob o pilar da mais perversa irresponsabilidade.


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