Responsabilidade -
palavra que encerra uma ideia fácil de entender. Mesmo assim, fui aos
dicionários. Adoro conferir nos dicionários! Escolho o Houaiss que a define em
três acepções:
"1. obrigação de responder pelas ações próprias ou dos
outros;
2. caráter ou estado do que é responsável;
3.dever jurídico resultante da violação de determinado direito, através da prática de um ato contrário ao ordenamento jurídico."
2. caráter ou estado do que é responsável;
3.dever jurídico resultante da violação de determinado direito, através da prática de um ato contrário ao ordenamento jurídico."
Triste um país em que a irresponsabilidade deixa de ser natural
na infância, passageira na adolescência, para chegar à fase adulta desnaturada,
transmutada num baita vale-tudo. Um vale-tudo desestruturante no pior dos
sentidos.
Triste um país em que a irresponsabilidade é praticada por
agentes políticos e de Estado com seus poderes decisórios sobre nossas vidas.
Irresponsabilidade que se apresenta em bandeiras de todas as cores, engessadas
na pobreza dos slogans - "fora tudo o que aí está". Slogans muitas
vezes antagônicos só na aparência. Prova disso foi a martelada desferida pelo
Senado, contra o artigo 52 da Constituição vigente, patrocinada pela
articulação concentrada nos 20 votos contrários ao impeachment somados aos 16
votos, com predominância do PMDB, para cindir o texto da norma, quando a sua
dicção traduz um todo indivisível. Se digo: "fui à feira com
Alberto". É possível formar-se a ideia de que fui à feira sozinha? Não,
não é. Mas o que não fazem os detentores de mandatos parlamentares para cumprir
seus projetos cada vez mais distanciados dos interesses do povo?
É bom lembrar que o Temer só aí está porque seu retrato lá
estava na urna eletrônica ao lado de Dilma. Ah, tá: o lema agora é "todos
juntos somos fortes para fechar as portas das investigações da Lava-Jato e
afins". O embuste do confronto entre o PT e o PMDB que é também de Cunha
salta aos olhos! Só não vê quem se aprisiona na superficialidade dos slogans,
em prejuízo do pensamento crítico do qual depende o nosso futuro.
Posso estar enganada, mas não vejo solução fora da ordem
jurídica e do Estado de Direito Democrático bem desenhado na Constituição. Com
todo respeito ao pensamento dos companheiros e companheiras, não fui para a
luta armada. Nem teria deixado de assinar a Carta de 1988. Os que me conhecem
daquele tempo, da militância no PCB, talvez não se espantem com meu pensamento.
Hoje,
diante de tantas perplexidades - muito mais dúvidas do que certezas e slogans -
só gostaria de saber o que pensa o povo. E me refiro à turma que trabalha duro,
enfrenta horas na condução para chegar ao trabalho e voltar para casa - e os
vejo exaustos, com feições apreensivas no vai e vem do metrô, desembarcando em
massa na estação Central do Brasil para pegar a linha férrea - homens e
mulheres que respondem por seus filhos, seus netos e se desdobram para que eles
tenham o melhor... Penso nos que sofrem nos grotões onde as benesses populistas
sequer chegam.E não posso deixar de pensar no destino de tantos que confiaram
nos fundos privados de pensão, hoje ameaçados por um dos golpes mais suntuosos
do sistema construído sob o pilar da mais perversa irresponsabilidade.
No comments:
Post a Comment